As duas primeiras semanas representam a fase mais critica na vida dos recém- nascidos. A mortalidade perinatal é caracterizada por acidentes ocorridos durante o parto, natimortos e mortalidades nas primeiras horas de vida, representa ao redor de 5 a 10%, o que corresponde à metade da mortalidade que ocorre no primeiro ano de vida. Já a mortalidade que se estende do período neonatal até 1 ano, deve-se às septicemias, diarréias, no início de vida, geralmente atribuídas aos colibacilos, tristeza bovina, pneumoenterite e carbúnculo sintomático entre outras doenças que acometem os bezerros.
Para se reduzir parte desta mortalidade
neonatal faz-se necessário conhecer um pouco da fisiologia do
recém-nascido e do modo de transmissão da imunidade passiva.
A placenta sindesmocorial dos bovinos
protege o bezerro da maioria das agressões bacterianas ou virais, mas
impede, igualmente, a passagem de proteínas séricas e principalmente as
imunoglobulinas. O recém-nascido é, portanto, desprovido de anticorpos e
desta forma particularmente sensível às infecções, adquirindo uma
verdadeira proteção imunológica somente após a ingestão do colostro.
A transmissão da imunidade passiva depende de vários fatores que podem ser agrupados em três categorias:
-Fatores ligados à vaca (qualidade do colostro).
-Fatores ligados ao bezerro (atitude de mamar, capacidade de absorção intestinal);
-Fatores ligados ao criador (modalidade de administração do colostro).
II. FATORES LIGADOS À VACA
2.1. Qualidade do Colostro
A aquisição da imunidade passiva
colostral é determinada pela ingestão precoce de um colostro rico em
imunoglobulinas. Entretanto, a riqueza em imunoglobulina do colostro
diminui durante as primeiras mamadas ou ordenhas. Os bezerros que
sofreram uma hipóxia moderada, assim como os prematuros que se levantam
com dificuldades, terão acesso a glândula mamária, mais tardiamente, e
além do que o colostro será mais pobre em imunoglobulinas.
2.2. Natureza dos anticorpos colostrais
Os anticorpos são proteínas, globulinas,
sintetizadas num organismo vivo sob a influência de uma estimulação
antigênica. As imunoglobulinas predominantes no soro sangüíneo dos
ruminantes são as IgG1 e as IgG2. As duas estão presentes em
concentrações quase similares no soro sangüíneo e possuem propriedades
físicas quase idênticas.
As IgG1 e IgG2 têm um peso molecular de
160.000 daltons, um coeficiente de sedimentação de 7 S e são
constituídas de 4 cadeias de polipeptídeos (duas leves e duas pesadas)
(Figura 2). Encontramos igualmente no soro as IgM, imunoglobulinas mais
pesadas (peso Molecular de 900.000 a 1.000.000 daltons) e coeficiente de
sedimentação de 19 S. Sua estrutura básica compreende 4 cadeias,
agrupadas de cinco em cinco, constituindo uma molécula de 20 cadeias.
Esta molécula tem uma grande capacidade de aglutinar os glóbulos
vermelhos e as bactérias (Figura 3). No soro sangüíneo, encontramos
igualmente as IgA que compreendem quatro cadeias de polipeptídios
(Coeficiente de sedimentação de 7 S e peso molecular de 170.000 daltons)
(Figura 4).
Na maioria dos mamíferos domésticos as
IgG e, mais particularmente as IgG1, para os ruminantes, representam 50 a
75% das proteínas do soro do colostro.
2.3. Origem dos anticorpos do colostro
As IgG passam do plasma materno para a
glândula mamária em ruminantes, sem serem transformadas através de um
mecanismo seletivo, graças a presença de sítios receptores presentes nas
membranas basais ou intercelulares das células epiteliais glandulares. O
número de sítios de recepção as IgG1 tende a aumentar com a proximidade
do parto. A transferência destas imunoglobulinas é um fenômeno
progressivo que atinge seu pico máximo 3 dias antes do parto. Todavia,
já três semanas antes do parto, a concentração em IgG1 na secreção
mamária é em torno de 11 vezes mais elevada que a de IgG2. Duas a três
semanas antes do parto as concentrações de IgG1 diminui no soro
sangüíneo, enquanto que as concentrações de outras imunoglobulinas
permanecem imutáveis. As concentrações de IgM e IgA no colostro antes ou
após ou imediatamente após o parto são multiplicadas por cinco a sete
vezes em relação ao soro sangüíneo, portanto, o epitélio mamário
desempenha um grande papel neste processo de captação.
2.4. Produção de colostro e Variabilidade de imunoglobulinas no colostro
Dados obtidos na França sobre a produção
de colostro de primeira ordenha de 111 vacas da raça Holandesa foi de
5,8 Kg com extremos variando de 1 a 17 kg. As vacas de 1a. Cria
produziram menos do que as de 2a. ou mais crias.
As novilhas e vacas de 2a. cria produzem
colostro com níveis de IgG mais baixo do que vacas mais idosas. Ao
contrário, segundo alguns pesquisadores, os níveis de IgM e IgA não são
afetados com a idade. A ordem de lactação aliada a outros fatores, como
raça, tempo decorrido entre o parto e a obtenção do colostro, duração da
gestação, influenciam marcadamente na variabilidade de imunoglobulinas
no colostro. Nossos trabalhos realizados em 1987, mostram que na
primeira ordenha após o parto, as concentrações de IgG do soro do
colostro de vacas da raça Holandesa, variaram entre 15 e 116 g/L, com
uma média de 61 g /L. Outros autores reportam níveis de IgG que vão, em
média, 69,4 a 150 g /L. As concentrações de IgG variam conforme as
ordenhas após o parto: na primeira ordenha os níveis encontrados foram
de 73,4 g /L, na segunda ordenha, 41 g/L e na 3a. ordenha 17 g/L.
A correlação entre as concentrações de
imunoglobulinas no colostro de uma mesma vaca em partos sucessivos é
alta. Tudo indica, também que exista uma correlação significativa entre
os níveis de imunoglobulinas do colostro das mães e de suas respectivas
filhas. E se isso se confirmar, é possível, portanto, uma solução
genética do problema de mortalidade de bezerros através da seleção
baseada na composição do colostro em imunoglobulinas.
Colostro de vacas que apresentam mastite
no parto e de vacas que abortaram, assim como o colostro de novilhas no
1o. parto e aqueles que são obtidos com 12 h após o parto não é de boa
qualidade e não devem ser empregados para alimentação de recém-nascidos
ou para formação de banco de colostro.
2.5. Outros constituintes do colostro
O colostro de vaca contém de 3 a 4 vezes
mais células somáticas (leucócitos polimorfonucleados) e uma atividade
antibacteriana superior a do leite. Pode-se encontrar certas proteínas
como, lisozima, componentes do complemento, lactoferrina, fosfatase
alcalina, gamaglutamil-transferase e a presença de um fator
antitripsínico. A lactoferrina, por exemplo, tem uma elevada afinidade
pelo ferro e deste modo, juntamente com o sistema lactoperoxidase do
colostro, contribuem acentuadamente como preventivo nas infecções orais e
digesto-intestinais dos bezerros. Os componentes do Complemento (C1,
C2, C3 e C4) agem em sinergia com os anticorpos para a destrição das
bactérias. O leucócitos polimorfonucleados e, em particular os grânulos
neutrófilos, transportam e, sintetizam cerca de 30 enzimas diferentes.
Estas enzimas são potencialmente capazes de quebrar praticamente todas
as ligações químicas conhecidas na natureza. Um dos constituíntes do
colostro que tem um papel importantíssimo para os recém-nascidos é o
fator antitripsínico presente no colostro de vaca. A cinética da
secreção do fator inibidor da tripsina do colostro bovino, durante as
oito primeiras ordenhas pós-parto, foi similar as concentrações de
imunoglobulinas colostrais observadas nesta mesma cinética (Tabela 1).
II. FATORES LIGADOS AO BEZERRO
2.1. Mecanismo e via de absorção das imunoglobulinas
Sabe-se que o intestino do bezerro
recém-nascido absorve as proteínas somente durante as primeiras horas
pós-natal. As imunoglobulinas são absorvidas por um mecanismo chamado
micropinocitose sob forma de pequenos glóbulos de tamanhos variados. As
moléculas atravessam a membrana das células epiteliais embrionárias e
caminham em direção à base das células. Em seguida ganham a circulação
sangüínea exclusivamente através do canal linfático.
As primeiras pesquisas mostraram que a
absorção intestinal das proteínas ocorre sobretudo no jejuno. Todavia,
alguns pesquisadores afirmam que não há variação da absorção entre os
diferentes segmentos do intestino delgado. Estudos mais recentes
demonstram que o pico máximo de absorção intestinal é localizado nas
ultimas porções do intestino delgado; jejuno e íleo.
A captação das imunoglobulinas por
micropinocitose e a transferência para a circulação linfática são dois
mecanismos independentes. Sabe-se que a absorção das imunoglobulinas é
uma propriedade exclusiva das células embrionárias do epitélio
intestinal do bezerro. As imunoglobulinas se encontram na circulação
linfática; em seguida elas ganham a circulação sangüínea pelo canal
torácico. O trajeto é diferente para as moléculas de peso mais baixo,
como a soroalbumina, a β-lactoglobulina e a α-lactalbumina, que passam
diretamente dos vasos linfáticos para a circulação sangüínea.
As imunoglobulinas aparecem na circulação sangüínea após três ou quatro horas da ingestão do colostro pelo recém-nascido.
Nos bezerros que não recebem colostro,
as imunoglobulinas intestinais são sintetizadas nas placas de Payer e na
região das criptas da mucosa do intestino delgado. Todavia, os níveis
de imunoglobulinas só serão suficientes para uma verdadeira proteção
após um mês de vida.
3.2 Período de permeabilidade do intestino do recém-nascido as imunoglobulinas do colostro
O fim do período de absorção é definido
como a idade a partir da qual o intestino do recém-nascido é incapaz de
absorver as macromoléculas intactas, como as imunoglobulinas.
O ritmo de renovação das células
epiteliais do intestino dos animais varia ligeiramente conforme as
espécies, mas é sempre rápido e definitivo. Todas as evidências mostram
que o epitélio do bezerro recém-nascido é inteiramente renovado dentro
de 36 a 48 horas após seu nascimento (Figura 1). As células iniciais que
persistem na extremidade das vilosidades, após 48h de vida, não parecem
ser capazes de repassar seu conteúdo para o sistema linfático. Isto se
processa possivelmente em razão de uma baixa circulação linfática na
extremidade das vilosidades após algumas horas de vida, ou por outro
lado poderia ser que o fornecimento de nutrientes para transferência
ativa se encontre limitado pela baixa circulação sangüínea a este nível.
3.3. Eficácia de absorção intestinal das imunoglobulinas colostrais
A eficácia da absorção intestinal das
imunoglobulinas colostrais é muito variável, segundo os autores. Em
bezerro, a diversidade destes resultados é devida, em parte, à
variabilidade individual, uma vez que para as lgG a eficácia da absorção
varia de 34 a 83%.
Para explicar a eficácia da
transferência de diferentes imunoglobulinas foi invocada a existência de
uma competição entre IgA, IgG e IgM em nível do local de absorção,
assim que um efeito de saturação em razão da porcentagem preponderante
de IgG no colostro. A meia-vida das IgA oscila entre 48 e 96h, a das IgM
de 4 dias e para as IgG1 e IgG2 observamos respectivamente 35% e 58% de
catabolismo a 5 e 4 semanas.
Parece que a eficácia da absorção
intestinal das IgG não é influenciada pela quantidade ingerida ou pela
concentração no colostro. Ao contrário, a das IgM diminui à medida que a
ingestão aumenta.
A eficácia de absorção das
imunoglobulinas em bezerro, durante as primeiras 24h de vida (se
considerarmos um volume sangüíneo da ordem de 93 mL por kg de peso vivo,
no primeiro dia de vida), pode ser estimada em 45% para as
imunoglobulinas ingeridas na primeira refeição.
Alguns pesquisadores pensam que certos
bezerros seriam naturalmente incapazes de adquirir um nível normal de
imunoglobulinas e estimam a existência de 20 a 30% de bezerros. Porém,
esta hipótese parece não receber confirmação, uma vez que todos os
bezerros experimentais que receberam precocemente um colostro com níveis
adequados de imunoglobulinas foram capazes de absorver as
imunoglobulinas.
Certos casos de hipogamaglobulinemia
poderiam advir de um longo tempo decorrido desde o nascimento até a
primeira mamada ou de um fornecimento insuficiente de colostro pobre em
imunoglobulinas na primeira ingestão.
3.4. Seletividade de absorção das imunoglobulinas
O intestino delgado de bezerros capta e
transporta até a linfa uma grande quantidade de imunoglobulinas nos dois
primeiros dias de vida, Todas as espécies possuem uma certa
seletividade na absorção de imunoglobulinas; isto implicaria na presença
de receptores como componentes necessários para a absorção (captação e o
transporte) das imunoglobulinas. A absorção das imunoglobulinas pode
ser reduzida de diferentes maneiras, notadamente pela competição entre
microrganismos intestinais e imunoglobulinas, pelos mesmos receptores em
nível dos enterócitos das vilosidades intestinais. Dentro deste mesmo
raciocínio, cabe citar um experimento feito nos EUA, que compararam o
efeito das imunoglobulinas do colostro sobre a ação da bactéria
Echerichia coli, no segundo Echerichia coli, suspensa em colostro e no
terceiro uma solução salina contendo Echerichia coli foi fornecida uma
hora após a ingestão do colostro. Passado 24h, foi realizado exames
microscópicos e bacteriológicos. A bactéria foi encontrada em grande
número nos animais que não receberam o colostro; poucas foram
encontradas nos que receberam colostro contaminado; e nenhuma bactéria
foi encontrada nos bezerros que receberam colostro uma hora antes de
serem expostos a Echerichia coli.
3.5. Fatores que afetam a absorção das imunoglobulinas
a. Efeito da presença maternal
Em bezerro, os estudos realizados quanto
a influência da presença maternal, na absorção das imunoglobulinas
pelos animais recém-nascidos, forneceram resultados contraditórios. Para
os pesquisadores ingleses, a presença maternal foi responsável por 70% a
mais na quantidade de imunoglobulinas absorvidas pelos recém-nascidos
que permaneceram com as mães. Estes animais eram munidos de uma
focinheira que os impedia de mamar fora dos horários. Enquanto que no
tratamento experimental os bezerros foram separados das mães ao nascer,
retornando somente para mamar.
b. Tempo decorrido desde o nascimento até a primeira mamada e modo de distribuição de colostro
Em bezerro, existe uma correlação
positiva entre o momento do fornecimento do colostro após o nascimento e
a concentração de imunoglobulinas no soro do bezerro. Dois fatores
contribuem para o aparecimento de bezerros com baixo nível de
imunoglobulina sérica. De um lado, a concentração em imunoglobulinas do
colostro cai com o tempo decorrido desde o parto até a primeira mamada
ou ordenha (Figura 3) e de outro, a capacidade de absorção intestinal de
imunoglobulinas diminui rapidamente nas horas que seguem o nascimento,
isto é de 100% a 0h, em média 50% às 13h e praticamente nula em torno de
24h após o nascimento (Figura 1).
A importância do fornecimento precoce do
colostro para bezerro recém-nascido pode ser evidenciada nos
experimentos ingleses, onde 30 animais recém-nascidos foram separados de
suas mães, logo após o nascimento e alocados, em três tratamentos, os
quais receberam a mesma quantidade de colostro, porém fornecido em
momentos diferentes do nascimento. O primeiro tratamento mamou uma hora
após o nascimento; o segundo com cinco horas e o terceiro com nove
horas. Considerando o primeiro tratamento com testemunha com 100% de
proteção, o segundo e o terceiro alcançaram apenas 76% e 54%
respectivamente. Portanto, os animais do terceiro tratamento absorveram a
metade da quantidade dos animais testemunhas.
Os bezerros que ficam na presença de
suas respectivas mães mamam mais cedo e obtém mais rapidamente um nível
máximo de imunoglobulinas. Outros experimentos confirmam que o nível de
imunoglobulinas séricas é mais elevado em bezerros que mamam em suas
mães, do que naqueles que são alimentados com o colostro no balde. Isto
se deve ao fato, segundo a literatura, de que os bezerros, em geral,
mamam de 8 a 10 vezes durante o primeiro dia de vida.
Alguns trabalhos mostram que a
administração de colostro através de uma sonda esofágica ou em balde
munido com chupeta fornece resultados semelhantes para os níveis de
imunoglobulinas plasmáticas. Portanto, havendo dificuldade de alguns
bezerros mamarem nas seis primeiras horas após o nascimento,
aconselha-se forçar a administração do colostro, via sonda esofágica.
Deve-se dar preferência ao colostro da 1ª ordenha apos o parto, por ser
mais rico em imunoglobulinas. A quantidade a ser fornecida pode ser
calculada na base de 50g por kg de peso vivo, isto é: um bezerro de 40
kg deve receber, no mínimo 2 kg de colostro, nas primeiras horas de
vida.
Pesquisas mostraram um efeito de
temperatura elevada (até 38°C) sobre a absorção de imunoglobulinas pelo
bezerro recém-nascido: os criados na sobra absorvem 25,5g de
imunoglobulinas por litro de soro sangüíneo, enquanto os criadores em
gaiolas expostas ao sol absorveram apenas 19,6 g/L. Os autores
associaram estes níveis à elevação dos corticosteróides sangüíneos,
consecutivos aos estresses térmicos. Particularmente, nas criações de
gado leiteiro, nas nossas condições de temperaturas elevadas no verão,
recomenda-se evitar a exposição dos recém-nascidos ao sol durante os
primeiros dias de vida.
c. Raça e sexo
Entre os fatores genéticos, a raça foi
seguidamente citada, mas, trata-se mais provavelmente de um efeito do
comportamento ao nascer. Segundo algumas pesquisas, a absorção de
imunoglobulinas foi mais importante em bezerros da raça Holandesa do que
em bezerros da raça Salers. Outras pesquisas demonstraram que a
eficácia de absorção de lgG foi mais elevada em bezerros Dinamarqueses
Preto do que naqueles da raça Vermelha.
No que se refere ao sexo, em cordeiros, os machos absorvem com a mesma eficácia que as fêmeas as imunoglobulinas (lgG).
d. Duração de gestação e parto
Em bovino e bubalino recém-nascidos,
observa-se que a duração de gestação não afeta a capacidade de absorver
imunoglobulinas. Quanto ao uso de drogas para indução do parto, parece
que não existe diferença significativa quanto à absorção de
imunoglobulinas em bezerro cujo nascimento foi normal ou induzido pelo
benzoato de estradiol e/ou pela dexametazona.
f. Estação de nascimento
Segundo alguns autores, não existe
variação estacional dos níveis de imunoglobulinas séricas em bezerro. A
estação do ano, bem como a hora do nascimento não afetou o nível
plasmático de imunoglobulinas, em bezerro, muito embora interfiram sobre
a primeira mamada. A concentração sérica de imunoglobulinas em bezerros
é mais baixa no inverno, aumenta durante a primavera e inicio do verão,
atingindo um nível máximo no final do verão para diminuir em seguida.
Por outro lado, pesquisas efetuadas nos EUA, observaram diferenças
estacionais, sendo que a porcentagem de bezerros hipogamaglobulinêmicos
(com níveis séricos inferiores a 8 mg/lgG/mL) é significativamente mais
elevada no inverno do que no verão.
e. Alimentação maternal pré-parto
Uma restrição energética e protéica,
moderada, imposta à mãe no final da gestação, não tem efeito sobre a
absorção de imunoglobulinas pelos bezerros recém-nascidos.
h. Idade da mãe
Em bovino, a porcentagem de bezerros de
raças leiteiras, tendo mamado nas 6h que seguem o nascimento, diminui
progressivamente de 89 a 43%, quando se passa da primeira para a sétima
lactação.
De fato, observa-se que os bezerros nascidos de mães idosas apresentam uma atividade menos vigorosa no ato de amamentar-se.
Uma diminuição do trânsito digestivo
poderia ser devida igualmente à atonia do abomaso, que poderia retardar
consideravelmente a evacuação gástrica. Durante uma autópsia de bezerro
morto de parto distócico, tendo recebido colostro por intubação, a maior
parte da alimentação colostral foi encontrada no abomaso, portanto não
houve evacuação gástrica. Os bezerros distócicos (os animais que
nasceram com ajuda mecânica) absorvem as imunoglobulinas com a mesma
eficácia que os eutócicos. Todavia, nenhuma informação sobre o estado de
hipóxia destes animais foi fornecida por estes autores. Todas estas
contradições podem muito bem resultar do grau de hipóxia muito variado,
afetando os animais, grau este que é muito difícil de avaliar durante a
leitura de publicações. Além do que, observa-se com freqüência, em
bezerros nascidos de partos distócicos, atividade física reduzida, o que
os leva a mamar mais tardiamente, ocasionando uma redução na absorção
de anticorpos.
Independentemente da atonia do abomaso,
estes animais precisam ser identifica-dos para uma melhor assistência.
Se necessário, pode-se fornecer o colostro com a ajuda de uma sonda
esofágica. Isto é, intubar o bezerro com ajuda de uma mangueira, não
muito rígida e com protetor na ponta, tomando os devidos cuidados para
evitar lesões, durante a passagem da mesma pelo esôfago.
IV. FATORES LIGADOS AO CRIADOR
O papel do criador é de capital
importância para assegurar uma boa transmissão da imunidade colostral.
Em primeiro lugar, temos que considerar três possibilidades de manejo
dos recém-nascidos:
1 – Permanência do bezerro junto ao “pé
da vaca” durante toda a fase de aleitamento. Neste caso o acesso à
glândula mamária deve ocorrer mais cedo possível. Caso não ocorra nas
primeiras 6h após o nascimento, deve-se intervir ajudando o bezerro a
mamar. A utilização de uma sonda esofágica para administrar o colostro
da 1.ª ordenha pós-parto, até o estomago, é a melhor opção em casos
extremos da não ingestão voluntária.
2 – Permanência do bezerro junto ao “pé
da vaca” somente nas primeiras 24h. Alguns produtores preferem deixar os
bezerros mamarem à vontade o colostro diretamente em suas mães. Este
método é o mais natural e conta com a vantagem do recém-nascido mamar,
em media, de 8 a 10 vezes no primeiro dia de vida. Todavia quanto mais
especializada for a vaca para produção de leite, menos importância
dedica ao recém- nascido, levando alguns deles a não se amamentarem nas
primeiras 6h após o nascimento, contribuindo assim para uma baixa
concentração de imunoglobulina sangüínea. Um número excessivo de vacas
em um só piquete contribui também para confundir os recém-nascidos, e
assim passem algumas horas sem executarem a 1ª mamada. Aconselha-se
destinar os piquetes mais próximos da sede da granja, para as vacas
secas, que adentrarão nestes piquetes aproximadamente 30 dias antes de
parirem. Procurando-se evitar a superlotação de animais em um só
piquete, para não confundir o recém-nascido.
3 – Os bezerros são separados da mãe
logo após o nascimento, recebendo o colostro da 1ª ordenha em, no
mínimo, 3 vezes no 1º dia de vida. A primeira ingestão deve ocorrer
entre 2 e 4h após o nascimento, seguida dos demais fornecimentos
espaçados de 4h. O fato de se fornecer uma segunda refeição de colostro
4h após a primeira (esta mesma fornecida 4 a 6h após o nascimento),
permite dobrar os níveis de imunoglobulinas séricas. O colostro deve ser
ministrado ainda nos 3 dias subseqüentes, em pelo menos duas vezes ao
dia, muito embora, após passadas 24 a 36 primeiras horas do nascimento
não ocorra mais absorção das imunoglobulinas. O objetivo, neste caso, é a
proteção da mucosa intestinal, proporcionada pelas imunoglobulinas A
(IgA) que revestem o intestino do bezerro impedindo que bactérias e
vírus causem infecções intestinais e também pelos fatores inespecíficos
presentes no colostro que favorecem uma maior resistência às doenças.
Um exemplo típico da ação do criador
para evitar baixos níveis de imunoglobulinas (hipogamaglobulinemia) em
bezerros é relatado num experimento realizado na França: a distribuição
de uma mistura unicamente de colostro de 1ª ordenha, imediatamente após o
parto, reduziu de 57,5 para 2,8% a porcentagem de
hipogamaglobulinêmicos (Figura 5a e b). Todavia, um ano após a
distribuição a bezerros de uma mistura de colostro de 1ª e de 2ª
ordenha, alterou o histograma de repartição dos níveis de
gamaglobulinemia, elevando- se a taxa para 18% (Figura 5c).
Sabendo-se que a mortalidade neonatal é
altamente correlacionada com a hipogamaglobulinemia, pode-se conceber a
importância de uma boa transmissão da imunidade passiva colostral. V.
Conclusão
As recomendações tradicionais são sempre
da atualidade, a fim de obter a aplicação de regras de base de uma boa
transmissão de imunidade colostral:
1. as vacas deverão adentrar no piquete
onde vai ocorrer o parto um mês antes da data prevista; assim elas terão
tempo de sintetizar anticorpos contra a flora microbiana do meio
ambiente;
2. o colostro da 1ª ordenha deve ser
fornecido o mais cedo possível após o nascimento e em quantidade
suficiente – em torno de 2 litros para um bezerro de grande porte como
os da raça Holandesa, nas primeiras 2 h de vida;
3. prosseguir a alimentação colostral durante o primeiro dia, fornecendo mais duas refeições dentro das primeiras 12 a 14 horas;
4. a alimentação colostral deve ser
fornecida durante os primeiros três dias, após o nascimento, a fim de
assegurar uma boa proteção local da mucosa intestinal;
5. o excedente do colostro da primeira
ordenha pós-parto pode ser congelado a uma temperatura de –15 ou –20°C,
em frações de 1 a 2 litros, em garrafas plásticas de água mineral por
exemplo, para suprir as necessidades de bezerros que nascem de mães
deficientes ou que morrem ao parto. Todavia, ao descongelar o colostro,
deve-se tomar os devidos cuidados para que a temperatura dentro do
recipiente não ultrapasse 50°C. Estes cuidados evita a desnaturação
térmica das imunoglobulinas. O respeito a estas regras de base é
geralmente suficiente para assegurar uma boa imunidade colostral e
reduzir as perdas neonatais.
Autor: G.T. Santos
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