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Compost Barn: Uma alternativa para vacas leiteiras



Um novo sistema de produção de vacas leiteiras, o Compost Barn, que ainda não é comum no Brasil, tem sido assunto de grande discussão e de buscas por novas informações, uma vez que são poucos os textos brasileiros mostrando o que é este sistema, como funciona e os resultados de acréscimos produtivos e financeiros. Assim, buscando atender aos técnicos e produtores do setor com informações atualizadas, o MilkPoint, em parceria com Leonardo Dantas e Adriano de Siqueira Seddon - palestrantes dos Interleites Sul e Brasil, respectivamente - abre espaço para novas discussões e esclarecimentos sobre o assunto que traz muitas inovações à pecuária leiteira.

Em uma matéria divulgada em novembro do ano passado no MilkPoint, "Compost Barn: Uma alternativa para o confinamento de vacas leiteiras", Marcos Veiga dos Santos e Camila Silano abordaram sobre o sistema em questão, explicando o que é e como funciona esta nova forma de criação de vacas de leite. Segundo os autores, o “compost barn” é um sistema de confinamento alternativo do conhecido sistema “loose housing”, composto basicamente por uma grande área de cama comum (área de descanso), normalmente formada por maravalha ou serragem, que visa primeiramente melhorar o conforto e bem-estar dos animais e, consequentemente melhorar os índices produtividade do rebanho. Silano e Veiga divulgaram os resultados de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Minnesota sobre os benefícios em relação ao conforto e o impacto em produtividade e longevidade dos animais neste sistema de produção. Alguns dos pontos observados foram redução de problemas de casco, maior facilidade de manifestação de cios - melhorando a taxa de detecção - e melhoria da qualidade do leite, com redução da CCS, e menor incidência de mastite.

Muitos leitores do site postaram elogios e questionamentos ao artigo, discutiram sobre a possibilidade do Compost Barn ser uma nova alternativa de sistema de produção a ser praticado no país e questionaram sobre exemplos e resultados no Brasil deste novo sistema. Além disso, outros comentários vieram diretamente de técnicos e profissionais envolvidos no desenvolvimento deste sistema, de forma que tornou-se relevante citá-los para complementar os assuntos discutidos sobre o tema que muito ainda é novo para os brasileiros.

Nos comentários, Luis Fernando Laranja um dos idealizadores do sistema no Brasil, apresentou a Santa Andrea Agropecuária, com rebanho da raça Simental, como uma das primeiras fazendas brasileiras que adotaram o Compost Barn no país. 

Laranja destaca algumas recomendações importantes, que estão sendo adotadas na Santa Andrea, para quem quer adotar este sistema. Com relação ao material a ser usado na cama, ele diz que é preciso ter disponibilidade em local próximo e custo aceitável, para que o sistema seja viável. Na Agropecuária usa-se a serragem, pois possuem parcerias com serrarias locais que proporcionam um desconto significativo, reduzindo os custos. Segundo ele, deve-se analisar outras opções regionais para cama, como casca de amendoim ou de arroz, que sejam mais acessíveis.

Ele explica que o galpão foi planejado para que a área por animal seja de 10 m2 / vaca, medida que ele considera como limite mínimo. Com relação à altura da cama, ele diz que experimentaram 3 alturas, desde uma com base de areia (10 cm) + 40 cm de serragem até uma mais simples com apenas 30 cm de serragem direto sobre o solo escavado,contudo acredita que a cama pode ser ainda mais rasa, mas com uma reposição de uma fina camada mais frequente (a cada 15 dias). Para reduzir a umidade da cama, Laranja enfatiza a importância de uma ventilação adequada (uso de ventiladores sobre a cama) e, para uma melhor aeração, sugere que se faça um revolvimento (de 15 a 20 cm) da cama no mínimo 2 x ao dia, o que pode ser feito inclusive com as vacas dentro do barracão, pois elas se acostumam fácil a este manejo, sendo necessário apenas um cuidado extra do tratorista. A troca da cama (da metade superior), pode ser feita uma vez por ano, diz Laranja, mas desde que o manejo seja correto. 

Sobre os custos de instalação, laranja diz que na Santa Andrea Agropecuária foram usados modelos bem simples e econômicos de barracão (em alguns deles foram usadas somente toras de eucalipto na construção) que resultou em um custo aproximado de R$ 2 mil / vaca instalada.

Um outro ponto interessante que ele aborda é sobre uma possível nova fonte de renda com a venda do composto orgânico gerado na cama. Segundo ele, " trata-se de um adubo de excelente qualidade".

Ele cita ainda os benefícios práticos vistos como conforto animal excelente, custo significativamente mais baixo que o free-stall, redução na CCS (ainda que não se possa afirmar que é um resultado do Compost Barn) e aumento da média de produção de leite. 

Leonardo Dantas da Silva e Adriano Seddon - da Alcance Rural, veterinários responsáveis pela Agropecuária Santa Andrea, disseram que como todo confinamento, o Compost Barn possui prós e contras, mas afirmam que as soluções para este sistema são infinitamente mais simples que para os confinamentos "free stall".

Segundo eles, "não há manejo com areia, não há a necessidade de concreto na área de alimentação dos animais e a retirada da cama pode variar de meses a anos, de acordo com a lotação e o incremento da mesma. Porém há necessidade de resfriar os animais em uma sala (que pode ser a sala de espera), para evitarmos ao máximo o excesso de umidade na cama. Podemos, em alguns casos, aproveitar o corredor de alimentação como área de resfriamento com aspersores, no caso deste ser concretado. Os ventiladores são imprescindíveis para retirar o excesso de umidade da cama. Podemos notar que é um sistema de manejo intensivo, assim como é o free stall, mas que permite as condições de conforto que este muitas vezes deixa a desejar."

Como acréscimo às recomendações feitas pelo Prof. Laranja, eles recomendam ainda a instalação de cortinas laterais no barracão, para que não haja entrada de água em casos de chuva de vento. Ressaltam a importância de se usar, como indicadores da qualidade da cama, o aspecto dos animais, pois os mesmos devem permanecer com os pelos limpos, e o cheiro que não pode apresentar-se ruim. Eles lembram ainda que, com o devido manejo, não ocorre desenvolvimento de moscas e também não há observação de carrapatos - "diminui muito a incidência de ectoparasitas nesse sistema". Sobre o material da cama eles dizem que o sistema é muito flexível e permite uso de diferentes tipos de cama ao mesmo tempo (quem vai definir é a disponibilidade de mercado). Quanto ao tipo de equipamento para revolver a cama, afirmam que vai depender do material usado nela. "Quando temos partículas pequenas a enxada rotativa funciona muito bem, já na casca de amendoim o escarificador funciona melhor. A ideia é sempre incorporar ar na matéria orgânica, outra dica é usar materiais de granulometria diferentes permitindo que haja mais oxigênio entre as partículas", diz Leonardo.

O sistema de Compost Barn funciona maravilhosamente bem e o Brasil sem dúvida nenhuma tem os fatores necessários para seu bom funcionamento, mas certos detalhes, caso a caso, de construção e manutenção da cama são importantes e determinantes para o sucesso, complementa Adriano Seddon.

Leonardo Dantas disse, após o ciclo de um ano do sistema na Santa Andrea Agropecuária, que não houve problemas de adaptação e nem de saúde de cascos e mastites. "Podemos afirmar sem medo de errar que o Compost Barn é uma excelente opção para confinamento de vacas leiteiras. Já incorporamos a cama de um ano de uso para uso na agricultura (safrinha), teremos em breve a primeira avaliação do uso do composto na agricultura", afirma. Outra informação importante que ele acrescentou: "diferentes materiais comportam-se de maneiras bastante diferentes. Temos que tratar a cama como um "ser vivo", que necessita de oxigênio, carbono, nitrogênio e água em proporções adequadas - isso nada mais é que manejo."

Michel Kazanowski, produtor de leite, também comentou outros pontos a serem levados em consideração antes da execução de um projeto de Compost Barn, para evitar problemas futuros. Com relação a aspectos estruturais, ele diz que há necessidade de um pé direito alto para uma boa ventilação interna, para favorecer a perda de umidade e a eliminação de gases produzidos pela decomposição da cama e a distancia entre um barracão e outro deve ser de no mínimo 30 metros para não atrapalhar a ventilação lateral. Para que não haja acúmulo de umidade vinda do solo em dias muito chuvosos, Michel diz que deve-se evitar construção em terreno escavado, sendo recomendado elevação do solo na área construída, pois, assim, há um escoamento mais fácil da umidade para fora. Cortinas laterais, até um terço do total da área aberta, podem prevenir áreas de umidade em dias chuvosos e beirais longos previnem a entrada de umidade da chuva e protege as vacas da incidência de sol, ele complementa.

Segundo Michel, a pista de alimentação deve ser larga o suficiente (com pelo menos 3,5 metros de largura) para boa circulação dos animais, evitando acidentes e possibilitando um bom acesso à comida e água e o comprimento deve ser definido pela a medida mínima por animal no cocho, que é de 0,60 a 0,75 por vaca. Kazanowski diz ainda, que para melhorar a conservação da cama, o acesso à água deve ser pela pista de alimentação e uma parede de 1,2 metros deve separar a pista de alimentação da área de repouso. Sugere ainda que a cada 15 metros, no mínimo, deve haver uma entrada da área de descanso para a pista de alimentação com 4,5m de largura, além das duas existentes nas extremidades do barracão. Segundo ele, isso distribui melhor os animais pela estrutura e gera menos umidade na área de acesso. 

Sobre o espaço por animal, ele diz que a área por vaca deve ser rigorosamente respeitada para não comprometer a qualidade e decomposição das camas. Michel fornece um dado interessante: "A medida de 10m2 por vaca é para animais que produzem até 25 litros/dia. Acima disso, deve se acrescentar 1m2 a mais para cada 12 litros de aumento da média devido ao aumento de consumo de alimento e água, que resultará em mais dejetos.

Guilherme Alves de Mello Franco e João Vicente Zambrano Oliveira, dizem que o "compost barn" vem apresentar uma boa opção para os que buscam sistemas com menor investimento inicial para a construção de um galpão, uma vez que este apresenta um custo menor, quando comparado aos custos de construção de um galpão tipo free-stall.

Marco Antonio Subtil Macedo disse que a discussão veio em um momento em que os custos de produção estão altos e todas as alternativas que permitam baixar os custos ou que os investimentos sejam compatíveis com o valor recebido pelo leite produzido e que promovam o conforto animal são sempre bem vindas. 

Vários outros comentários foram postados no site, abordando sobre custos, adaptação dos sistemas aos diversos climas no Brasil e outras opções de camas, além da serragem, entre outros assuntos. Leia os demais comentários na íntegra feitos no artigo publicado no MilkPoint clicando aqui e participe também deixando seu ponto de vista sobre o assunto!

Quer ter acesso às informações mais atualizadas sobre este tema? Veja a programação dos dois Interleites promovidos pelo MilkPoint e saiba mais sobre Compost Barn! O Interleite Sul será em Passo Fundo - RS, nos dias 7 e 8 de agosto, e o Interleite Brasil em Uberlândia - MG, nos dias 11 e 12 de setembro.