Por Melânia de Araújo Alves e José Antonio Delfino Barbosa Filho
(NEAMBE - Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar animal)
Os
bovinos leiteiros criados nos trópicos estão expostos a condições
climáticas desfavoráveis, tais como a elevada incidência de radiação
solar, altas temperaturas e, em algumas situações, alta umidade relativa
do ar, assim o conforto térmico desses animais é um ponto que deve ser
levado em consideração, pois afetará o bem-estar dos mesmos e
consequentemente a produção de leite. Diante disso surge um
questionamento: Como saber se os animais se encontram em situação de
conforto térmico?
Felizmente existem valiosas ferramentas que já
são utilizadas em algumas propriedades para se detectar isso, tais como o
monitoramento ambiental e o monitoramento das variáveis fisiológicas,
pois fornecem um diagnóstico rápido e direto, ou seja, se a temperatura e
a umidade relativa do ar (variáveis ambientais) estiverem altas,
consequentemente os valores das variáveis fisiológicas também se
mostrarão elevados indicando uma situação de possível estresse para os
animais. Contudo, para se obter um resultado ainda mais preciso, deve-se
lançar mão de outra importante ferramenta que é a avaliação do
comportamento animal.
De acordo com Curtis (1981), os animais se
comportam dentro de certos padrões e uma dada alteração ambiental
comumente estimula mais de uma resposta comportamental, dentre as
respostas o animal aprende a usar aquela que for mais eficiente. O mesmo
autor afirma que existem basicamente sete sistemas de comportamento:
ingestão, eliminação, sexual, relacionado com cuidados maternos e com
procura, agonísticos, termorregulação e investigação.
Como os
bovinos são animais homeotérmicos, ou seja, a maior parte da energia
térmica presente em seu organismo é gerada a partir dos processos
metabólicos e o restante procedente do meio ambiente, em situações de
desconforto térmico os animais ativam o sistema termorregulador. Esse
sistema
se utiliza de mecanismos fisiológicos, como vasodilatação periférica,
sudorese dentre outros, que são de difícil visualização e dependem de
equipamentos e técnicas específicas para serem mensurados, entretanto os
animais utilizam também os mecanismos de transferência de calor que
podem ser facilmente observados. Com base em pesquisas e observações de
alguns comportamentos anormais ou que se afastam do comportamento
esperado foram determinados para situações de estresse por calor nos
trópicos.
Os bovinos possuem quatro mecanismos básicos de perda
de calor, que são a condução, convecção, radiação e a evaporação. Em
dias quentes é comum encontrar os animais distantes uns dos outros,
deitados no chão (visando aumentar a superfície de contato do corpo) ou
encostados em uma superfície fria, em alguns casos os animais buscam
sombra e se posicionam de costas para o sentido do vento, fazendo com
que seus pelos sejam eriçados e o calor retido seja levado com a brisa,
esses comportamentos facilitam as perdas por condução e convecção. Um
dos mecanismos de transferência de calor mais eficientes é a evaporação
(transpiração e respiração), quando o ambiente é desfavorável os animais
apresentam-se ofegantes visando perder calor através da respiração.
Em
situações mais severas os animais podem demonstrar alterações no
comportamento ingestivo. Pesquisas recentes demonstraram que bovinos
leiteiros em clima tropical com condições ambientais estressantes
aumentam a frequência e a permanência nos bebedouros, alterando também o
comportamento alimentar. Assim os animais diminuem o consumo de
alimentos, visando diminuir a atividade metabólica e consequente a
produção de calor, podendo também optar por ingerir mais concentrado que
volumoso, já que a fermentação ruminal gera bastante calor. Bovinos
criados a pasto podem alterar seu padrão de pastejo, substituindo
algumas horas de pastejo diurno por horas de pastejo noturno ou
pastejando por menos tempo. Assim, em ambientes desfavoráveis, os
animais passam menos tempo se alimentando e ruminando e mais tempo em
ócio.
Segundo Pires et al. (1998) a característica comportamental
mais fortemente afetada pelo calor, diz respeito às manifestações
físicas do
comportamento sexual das fêmeas. Contudo devido a
complexidade dessas alterações esse assunto será melhor abordado em
outros artigos.
O Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e
Bem-estar Animal (NEAMBE) busca realizar pesquisas na região Nordeste do
Brasil, na qual os animais enfrentam uma luta diária contra as
condições climáticas. Nos experimentos os animais são observados uma vez
por semana nos horários de conforto (de manhã) e nos horários de
desconforto (a tarde).
Durante a observação os comportamentos
são registrados de acordo com o etograma pré- estabelecido. O etograma é
um inventário contendo uma lista de todos os comportamentos esperados e
os comportamentos típicos de estresse por calor, como os detalhados
anteriormente.
Como consideração final é interessante enfatizar a
importância de estabelecer um planejamento e um cronograma diário para
observar o comportamento dos animais, pois isso ajuda a entender melhor
as flutuações de produção durante o ano e juntamente com o monitoramento
das variáveis ambientais e fisiológicas permite tomar de decisões de
forma rápida e precisa.
“Quando a última árvore for derrubada, quando o último rio for envenenado, quando o último peixe for pescado, só então nos daremos conta de que dinheiro não se come”. Provérbio Indígena
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